25 de Abril – 7:13
Como todas as histórias um pouco mais clichês, um dia depois de ter escrito sobre o quão boa fora a semana passada, algo aconteceu.
Resolvi que segunda-feira seria o último dia de corrida até hoje. Queria exceder os dez quilómetros para estar preparado mentalmente para conhecer a dor de hoje.
No entanto, não foi a dor que esperava.
Picadas dentro do joelho, a interseção entre a perna e a coxa não tinha um caminho definido para cada, e a cada passo a mesma ia se desfazendo um pouco. Entretanto, isto também ia acontecendo na outra perna, confundindo-me com qual haveria de coxear.
“Vai passar, depois dos dez minutos já não reparas na dor”, era o que dizia constantemente a mim mesmo.
Passaram-se dez minutos.
Não abrandaram.
Subitamente, a zona que conectava a bacia às pernas deixou de ter tanta força.
Os músculos da parte de trás da perna contraíam-se violentamente, e gradualmente perdia a noção de andar. Continuei por mais dois minutos, mas não fazia sentido. A passadeira parou, e eu mal conseguia mexer-me.
O desconforto não desapareceu até tarde, mas foi-se desvanecendo, apenas deixando as agulhas espetadas no joelho como sinal de que ali esteve.
–
Hoje é o dia da corrida, o dia D. Não corri desde então.
As picadas persistem a cada passo, murmurando ao meu ouvido visões daquilo que se vai passar.
Hoje a luta não é só contra o objetivo, mas sim contra todos os percalços.
Vai ser a dor mais difícil, vai ser o objetivo mais severo. Mas vou conseguir
Dez quilómetros em menos de uma hora.
Vai acontecer, tem de acontecer.