Texto sem nexo, sem importância além da prática de mover a caneta de baixo para cima porque não havia lápis.
Ainda bem que não, provavelmente apagaria tudo depois. É essa a diferença entre o lápis e a caneta.
Um pode ser apagado, o outro não. Como todas as ações que o ser pode viver, nenhuma delas se desvanece no tempo que persiste na memória, se não do efémero indivíduo, sempre do mundo.
As cicatrizes desenhadas a caneta na vida de alguém são permanentes, e conduzem-no pelo trilho da aprendizagem, ou da disforia sinfónica com que muitos se contentam.
Talvez seja por isso que escrevo com uma caneta (além da praticidade de não partir a sua estúpida ponta) e não com aquele mísero pedaço de grafite.
O dito cujo de ponta escura é a amnésia do Homem errante, que vive sentado à espera de terminar a própria obra somente para depois a poder apagar, fazendo esquecer todo e qualquer erro que cometeu, incapaz de admitir e mostrar ao mundo que falhou.
Não me apetece escrever muito mais por agora, mas confesso que por vezes gostava de ter lápis para escrever; é bem possível que este texto tivesse ficado melhor escrito com ele.